terça-feira, 29 de novembro de 2011

O mundo funk no ponto de vista sócio-econômico

Entre as maiores dificuldades ao discutir o tema do “mundo funk” é o fato de ele quase sempre ser associado com o narcotráfico. Neste artigo observaremos que a economia que gira em torno desse estilo musical e cultural é bastante diferenciado. Notaremos os processos históricos e culturais que reforçaram e sustentam até hoje esse movimento cultural.
O funk do Rio de Janeiro surgiu como um movimento de bailes de subúrbio durante os anos 1970 e 80, quando a blackmusic elétrica e de origem norte-americana (além de outros ritmos como o soul brasileiro de Tim Maia e Cassiano) foi sendo gradualmente substituída pelas batidas impactantes e eletrônicas do Miami Bass (dentre as quais se destacava a batida conhecida como volt mix).


Neste período, ao longo da década de 1980, começa a surgir uma sonoridade diferente, de base eletrônica, também importada.


Portanto, um segundo período começa a se delinear em meados dos anos 1980, tendo como característica a apropriação dos conteúdos em Inglês pelos frequentadores dos bailes funk do Rio de Janeiro e adjacências (municípios próximos). Deste modo, aos poucos uma criatividade até certo ponto espontânea e carregada de humor e deboche, além de boas doses de erotismo, inicia um momento em que se começa a perseguir algo além da diversão. As canções de funk são, neste contexto, as canções de Miami Bass lembradas pelos nomes de “melôs”.
A partir do momento em que este se desenvolve como gênero musical, pode-se acrescentar três fases historicamente constituídas à sua trajetória nos últimos vinte anos:
1) Um momento em que os festivais promovidos pelas equipes de som em bailes de clube, no início dos anos 1990, deram origem a uma produção original funkeira em que aspectos comunitários ficavam evidentes e que as letras do funk eram, sobretudo, vinculadas a questões de lazer, românticas ou conscientes/politizadas. Um elemento importante deste momento era o predomínio das duplas de MCs, como Júnior e Leonardo, William e Duda, Cidinho e Doca, Claudinho e Buchecha.


2) Um segundo momento, na metade final dos anos 1990, em que houve um predomínio de montagens sonoras de caráter semântico non sense, ou seja, um certo crescimento do poderio dos principais DJs e produtores musicais, deixando os MCs em segundo plano. Houve um esvaziamento do discurso politizado e uma diminuição da circulação dos funks românticos. Isto ocorreu na época em que os “bailes de corredor” estavam bem difundidos e ocasionou uma proibição dos bailes funk em clubes durante um significativo período de tempo. A circulação oficial do funk começava a perder espaço e a informalidade crescia no que se refere a obras fonográficas e apresentações do gênero.


3) Há um terceiro momento, compreendendo a década atual, em que as vertentes temáticas ligadas ao erotismo, pornografia e às questões relativas às facções do narcotráfico circulam de modo informal, mas extremamente significativo. Pontos como a Uruguaiana e a Estrada do Portela, em Madureira, vão apresentando uma produção fonográfica pirata cada vez maior.


Nesse terceiro momento, na atualidade, a circulação do funk carioca envolve informalidade e formalidade em medidas variáveis e de difícil quantificação. Por isso, não podemos enumerar exatamente o valor agregado desse movimento.
No entanto, podemos ressaltar que cresceu consideravelmente a oferta de serviços. Para exemplificar, nos anos 70, as primeiras equipes de som eram a Soul Grand Prix e a Furacão 2000, que se organizavam em bailes dançantes com equipamentos de vitrola Hi-fi. Aos poucos foram surgindo diversas equipes de som e com instrumentos mais sofisticados em virtude da tecnologia crescente.
Hoje em dia, existem inúmeras equipes, como a Pipo’s, Cashbox, Furacão 2000, Viashow digital, entre outras. Observamos que com o tempo a demanda de bens e serviços aumentou grandemente.
Não apenas no que tange ao fator musical, mas esses bailes influenciam os usuários a adotarem estilos para utilização de bens e serviços como o uso de vestuário e sapatos de marca. Com isso, esse estilo cultural está interligado com inúmeros bens e serviços de diversas empresas que geram um lucro considerável.
A medida de informação, um estudo da FGV (Faculdade Getúlio Vargas) mostra que os trabalhadores do funk movimentam cerca de R$ 12 milhões por ano, ocupa 10 mil profissionais e reúne um público de 3 milhões de pessoas.
Existe muito que se discutir sobre o “novo mundo funk carioca”. Porém, é necessário que deixemos de lado antigos preconceitos para podermos ver esse movimento com outros olhos. Um movimento que tem contribuído fortemente não só para a economia, mas também para a vida de pessoas que tem ascendido na vida social com a ajuda do funk.
Uma coisa é certa, a representação cultural nas pessoas que vivem do mundo funk é evidenciada como nesse trecho dos Mc’s Cidinho e Doca em Filme da vida: “o tempo passou, o mundo girou, e tanta coisa aconteceu, e a gente ainda canta pela graça de Deus. O tempo passou, o mundo girou, e olha nóis aqui de novo, cantando pra encantar nosso povo, viemos fazer tudo de novo, cantar pra encantar nosso povo...”

Alunos:
Bruno Costa
Gabriel Vianna
Surama Faustino
Período 2011.2

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